segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

You ARE so well
I AM so bad
MAD
I call you at night
I pretend I'm BRIGHT
I pretend I'm GLAD
But it is just my LONELESS!

sábado, 18 de outubro de 2014

Uma aula horrível às vezes tem que servir para alguma coisa. Em meio ao meu tédio da aula de português, produzi esse conto. Fiquei pensando em como a língua portuguesa se sentiria se estivesse no meu lugar.

Aula de Português

Era uma noite quente de primavera e o mormaço abafava toda a sala. O único ventilador do espaço girava em sentido horário produzindo um zumbido irritante. Ao longe, uma voz monocórdia se propagava pelo ar. O ritmo daquela voz lembrava o de uma missa cantada em latim.
Sentado numa cadeira de canto, o português se remexia num tédio sem fim e suspirava. Era como se tivessem apagado suas palavras e destruído sua morfologia. Sua sintaxe não fazia mais sentido e suas sentenças perdiam pouco a pouco a coesão e a coerência. Os verbos se embaralhavam esmorecidos e sua entoação jazia pálida como um cadáver no chão.
Ele coçou a cabeça pensativo, seu corpo brigava com suas pestanas para que ele não dormisse. Nunca na vida se sentira tão chato. Nem parecia mais aquela língua forte e cheia de vigor dos poemas de Pessoa, dos romances de Machado, dos fluxos de consciência de Clarice.
Lembrava nostálgico e melancólico dos seus tempos de ousadia modernista. Seu coração pulsava com as metáforas, com os coloquialismos, com as apropriações cinematográficas. Fora um verdadeiro vanguardista e dera a cara à tapa aos críticos. Não se importava com isso, queria ser a língua da inovação, queria vencer os arcaísmos.  
Até na mesa de bar seria mais feliz. Com toda a certeza! Mas naquela sala de luz azulada da universidade suas bochechas em forma de “p” perdiam a vivacidade e a figura do professor o aborrecia. Como aquela criatura era capaz de fazer dele uma coisa tão insuportável e opressora?  Pensou o português. Nem na gramática normativa ele se sentia tão chato e monótono quanto naquela voz docente.
O relógio na parede bateu nove horas e a aula chegou, enfim, ao seu término. Todos saiam apressados e o português levantou sorumbático da cadeira. Não queria conversar com ninguém, queria se esconder no dicionário de tanta vergonha. Caminhou até a porta da sala e num passo abatido se arrastou pelo corredor.

De repente, em meio ao silêncio dos seus pensamentos, um súbito ânimo invadiu seu corpo. Ouvira uma música linda de Chico saindo de um celular e vira em cartazes palavras da língua portuguesa clamando pela revolução. Seu coração se aqueceu de fonemas dançantes. Um grito de alegria se agitou em sua garganta. Não era o grandessíssimo chato que o professor o fizera parecer. Era a língua de Camões, afinal! Era língua de obras primas, língua de Graciliano, língua inventada e reinventada, era língua viva. Ergueu-se, então, sobre os dois pés, apoiou-se nas letras, declamou um poema e saiu saltitante. Ainda tinha muito o que fazer. 

terça-feira, 2 de setembro de 2014

Saias e sertões

Maria Bonita
Empunhou o facão
No Sertão
Era cabra, sim senhora!
E que desacredita,
Faça as malas,
Vassimbora!

domingo, 31 de agosto de 2014

Utobeers

You told me about dreams
I said yes 
I said sim
You told me about utopias
I said it was
Tudo que eu queria
So you asked me:
Like a beer?

domingo, 24 de agosto de 2014

Ganhei um livro lindo de aniversário e apaixonei, leminskiei, marginalizou tudo!

Baixou 
Saravou
Leminskiei
Cacaso falou
Chame Ana, por favor
Marginalizei
Entre as cervejas e os vinis
Linhas azuis dos 70
Com cheiro de álcool
Mimiografei

terça-feira, 27 de maio de 2014

Autonomia


Você tapa
Eu abro
Você prende
Eu abro
Você fecha
Eu abro
O que é meu
Eu abro
A boca e o que mais der na telha



quarta-feira, 7 de maio de 2014

A feijoada de domingo

O prato de domingo lá em casa era sempre feijoada.  Era um ritual familiar. Nos reuníamos à mesa às 12 horas em ponto, mamãe, papai, eu e meus quatro irmãos. Achava tudo aquilo muito chato. Fazia anos que aquela mesma cena se repetia, com a única diferença de que agora os personagens estavam mais velhos e cada vez mais mudos. Tudo acontecia sempre igual. Íamos juntos à missa de manhã e à tarde nos juntávamos para olhar cada qual o seu prato e falar frivolidades da vida provinciana e ordinária do Engenho de Dentro.
Mamãe mal abria a boca, sempre fora assim. Vovó dizia com orgulho que havia criado uma moça para casar, recatada, silenciosa e prendada. Uma boa esposa deve cuidar do seu marido e da sua casa, falava minha avó. Mamãe assentia com a cabeça sem discutir. E assim também era com meu pai. Quando ele falava, só se ouvia o eco da sua voz. Mamãe permanecia sempre calada e concordava com tudo, ou pelo menos não discordava. Ela vivia apenas de fazer as vontades do meu pai e de cuidar para que eu e meus irmãos estivéssemos sempre apresentáveis para a vizinhança, pois papai odiava que falassem que seus filhos andavam desleixados e que ele não provia sua família de maneira adequada. 
Papai era um homem severo e imponente. Brigava por tudo e, embora nunca houvesse encostado o dedo para bater em mamãe, descontava nos filhos com pontapés e bofetadas suas amarguras do mundo. Tudo era motivo para nos castigar, até mesmo ter comido o melhor pedaço do porco da feijoada. Ele sempre dizia que éramos o motivo do seu desgosto e que por nossa causa havia perdido os melhores anos de sua vida. Ninguém contestava. Frente à figura autoritária de papai éramos sombras mudas que vagavam com medo pela casa. Éramos fantasmas apagados, loucos para nos livrámos daquele rancor paterno sem motivo que pairava pela casa como vapor de água quente. Apenas meu irmão mais novo ousava desafiar papai.
Aurélio era um menino sério e quase não falava, mas às vezes seu gênio forte baixava como uma pomba gira enlouquecida e ele partia enfurecido para brigas que duravam dias com papai. Entre eles seguia uma guerra silenciosa, em que ninguém se metia. Eu sempre torcia por Aurélio e sonhava com o dia em que aquele corpo franzido e desbotado iria destituir do cargo de chefe da casa os bigodes grossos e autoritários de meu pai. Tinha um carinho especial por aquele irmão, porque, apesar de sua falta de vigor corporal, tinha uma personalidade forte. Mesmo roxo e dolorido, depois de sessões de surras repetitivas, não abaixava a cabeça e encarava com olhos firmes o rosto de seu agressor.
Eu era a quarta dos filhos e a única mulher. Era duro parecer o reflexo de mamãe. Assim como ela, eu não tinha voz firme com meu pai. No único dia em que abri a boca, recebi como pena puxões de cabelo.  Passei dias com dores na cabeça e no orgulho.
Em meio a dores e bocas mudas, representávamos como marionetes nossa rotina. Roupas limpas, cabelos penteados e sorrisos de mármore davam tom à hipocrisia familiar e faziam do cárcere privado um retrato acolhedor para os olhos curiosos dos que estavam de fora. Seguíamos passo-a-passo o roteiro de nossas vidas.  Até aquele domingo de maio.
Ainda consigo me lembrar do cheiro da terra molhada no jardim misturado ao cheiro da feijoada que inundava os cômodos da casa. Ao meio dia em ponto estávamos todos à mesa para encenarmos nossos papéis. Mamãe estava bonita e vestia um vestido vermelho simples. Eu olhava os cantos da sala entediada. Papai fumava um cigarro de palha e esperava a comida. Aurélio olhava com um sorriso no canto da boca a vida se repetir. Tudo parecia como sempre fora.
Mamãe havia colocado o prato de todos, mas primeiramente o de papai. Ele tinha sempre que dar a primeira garfada para que depois pudéssemos comer. Aurélio o contrariou. Pegou seu garfo e comeu um bom naco de costela para em seguida se deliciar com o rosto insatisfeito de papai, que ensandecido levantou da cadeira e foi em sua direção. Eu tremi, meus outros irmãos permaneceram sentados, mamãe, completamente lívida, abriu a boca e, pela primeira vez em anos, deixou que palavras saíssem.
- Sai de perto do Aurélio - ela gritou.
Todos ficamos atônitos. Até Aurélio ficou sem expressão. Mamãe nunca antes nos defendera daquela maneira. Em 17 anos era a primeira vez que eu via mamãe levantar a voz contra papai. Talvez ela estivesse com medo de morrer engasgada com as palavras que não disse ou talvez ela só estivesse cansada de uma existência de nulidade.
Papai ficou com mais raiva ainda, seu rosto estava vermelho e surpreso. Apesar disso, respirou e chegou calmamente perto de mamãe. Não disse nada, mas sua mão voou em forma de bofetada no rosto dela. Apenas o estalido da palmada foi ouvido e todas as nossas vozes e pensamentos se calaram. Papai havia atravessado a última barreira. Fiquei com pena de mamãe e meus olhos se encheram de lágrimas, mas eu não podia chorar. Ninguém era capaz de emitir som algum ou de fazer qualquer coisa. O feijão jazia frio em nossos pratos.
Papai respirou novamente e acendeu mais um cigarro. Como se nada tivesse acontecido sentou na cadeira e mandou que todos se sentassem, menos mamãe. Ele mandou que ela trouxesse para a mesa as laranjas que havia esquecido na cozinha. Com o rosto ainda vermelho e latejante, mamãe foi, mas não trouxe laranjas, trouxe a morte. Depois de um barulho ensurdecedor, papai caiu de cara no prato e sua camisa se encheu de um vermelho escarlate. O cigarro chegou ao chão ainda aceso. Como de costume, não dissemos nada, mas dessa vez o sentimento não era de medo, era um misto de espanto e de uma tenebrosa sensação de liberdade. Em pé, como as mãos trêmulas e o olhar fixo, mamãe sussurrava palavras ao ar:
- Eu disse a ele que, se encostasse em mim uma vez, não faria isso nunca mais.
Foi o último suspiro do tirano.





segunda-feira, 21 de abril de 2014

Sempre pensei sobre isso, sobre o fato da grama do vizinho parecer mais verde. Às vezes, quando eu estava em Berlim, tudo que eu queria era voltar pra casa, mas as pessoas achavam que eu estava sempre feliz. Sorrisos retalhados na internet mostram alegrias cortadas da vida ou até mesmo fingidas. Viva a melancolia!

Aquele copo de cerveja

Saudades, meu bem, daquele seu copo de cerveja. Daquele que sempre manchava minha cômoda. Saudades de reclamar com você e de me lembrar, sempre que via as marcas circulares na madeira, da sua cara mais lavada do mundo de quem se arrepende de mentira. Agora sento no sofá e lembro das nossas brigas bobas. A casa parece tão vazia. Não tem ninguém mais pra me buscar um copo d'água e fumar comigo um cigarro mentolado na varanda. Deito às vezes no chão e me dou o prazer dessa saudade doída e gostosa por dez minutos. Apenas por dez minutos me deixo engolfar por essa sensação estranha dos passados e dos amores perdidos. Pisco e tudo  parece que passou num instante.  Parece aos meus olhos que seu copo suado de cerveja ainda molha meus móveis e que seu corpo molhado de suor ainda embala minhas noites de verão. A questão é que a vida talvez pareça mais bonita pelos olhos da melancolia. Ah,  a melancolia! A transformadora dos passados mais sórdidos nos retratos mais bonitos. Acho que sim. Pros esfomeados, a grama do vizinho sempre parece mais verde. Mesmo que esse vizinho seja você mesmo num passado não tão distante.

Poemeto

Dias de vento de outono
Ligações de desencontro
Mãos inquietas e frustrada
s.

Estudando sobre Futurismo, quis quebrar suas temáticas. Se eles fazem odes à velocidade, eu faço uma ode à cama.

Poema não futurista
Homem-cama
homem
cama-homem 
simbiose
puft
desacelerar
cair
cama
homem-trabalho
homem
querer
homem-cama
Nao homem-maquina
homem-silencio

Sobre aspectos da transitividade da vida real.

Transitividade 

Quando sexo não conjuga com léxico,
Às vezes a sintaxe não funciona.
São sujeitos demais,
São sujeitos de menos, 
E verbos que não se transitam.
Se transitassem, 
Que bela oração seria

domingo, 23 de março de 2014

Naqueles dias em que o céu engolfa as estrelas e tudo vira escuro e luz.

Nos teus lábios meu botão se abre
Abre como a metáfora na boca do poeta
E minha carne quente tremula em sua saliva suave
Que me sorve
Como quem não quisesse parar de beijar.
E me sinto apertar o corpo
Fecho os olhos com afinco
Seus cabelos negros roçam em minhas pernas
Como o dia que toca a noite no começo do crepusculo
Estou quase perto do nada
Estou quase perto do fim
Seguro a mão do silêncio absoluto
A sua me toca devagar
Até que tudo se explode em fogos de artifício.

Poetando!


Depois do camburão havia um caminho


No meio do caminho havia um camburão. 

Havia um camburão no meio do caminho. 
Havia um camburão.
No meio do caminho havia um camburão.
Havia, eu sei que o vi.
Ele e suas almas lavadas de sangue.
Como chorei quando vi que ele havia.

domingo, 16 de março de 2014

Poesia metalinguística do cacete a quatro.

Sobre as silepses

Quando a vida anda dura

Eu me poeto
Me poeto pra nao doer
E me abraço nas palavras
Como se fossem redes
À beira da praia

Quando tentam me roubar
Esse pequeno prazer
Trazendo sílabas repetidas
Eu me agarro nas metáforas
E me jogo nas metonímias
Ninguém precisa saber

Das minhas hipérboles cuido eu
Já disse ao coroneis 
Já disse aos cacetetes 
Já disse aos carcereiros
Deixa!
Das minhas elipses, das minhas silepses, 
Dos meus sonhos cuido eu.