Teatro dos vampiros
Sentei e senti meu corpo cansado afundar
no sofá. Respirei, dei mais um gole na cerveja e limpei o suor da testa. Estiquei
meu braço, tateei às cegas o estofado e finalmente encontrei meu companheiro de
todas as noites, o controle remoto. Zapeava e sentia o movimento contínuo de
troca de canais vagarosamente entorpecer minha cabeça e meu corpo. Por um átimo,
pestanejei. Quando pensei abrir os olhos, estes me faltavam. Minha cabeça
virara um grande aparelho televisor. Mil imagens e sons aturdiam minha mente. Mulheres
nuas dançando em uma praia, uma grande guerra no Oriente Médio, bebês famintos
que não paravam de gritar, um homem com olhos sangrentos discursando palavras
de ódio. Levantei e andei desnorteado. Eu só queria que as imagens sumissem,
queria que as vozes se calassem. Estava enlouquecendo. Caí agonizante no chão e
finalmente puxei o fio da tomada. Me entreguei ao silêncio acolhedor.