A princesa desencantada
Era uma vez uma menina
que cresceu acreditando que adolesceria, acharia um príncipe encantado, se
tornaria uma princesa de um reino tão tão distante e viveria feliz para sempre,
com seus sete filhos, um carro esporte, e seus vestidos de lantejoulas.
Só que o príncipe não
veio, mas vieram por seu caminho muitos sapos, lobos, dragões, bruxas e irmãs
más, o que fazia com que a pobre menina ficasse cada vez mais desalentada.
Todas as noites, ela se perguntava onde estaria o príncipe que seus filmes
preferidos, seus romances mais doces e as revistas femininas que lera haviam
prometido. Quando, enfim, ela seria salva?
O tempo foi passando,
os outonos viraram inverno, as primaveras viraram verão, e a linda menina ainda
permanecia com seus sonhos na cabeça e seus sapos na garganta. Ela já havia
feito de tudo para conseguir seu tão sonhado príncipe. Não comia doces, nem
frituras, nem gorduras. Refrigerante? Nem pensar. Princesas tem a barriga
lisinha. Falando em lisinho, o cabelo da menina já estava mais que alisado. Seus
pobres cachos foram escravizados e se renderam a força opressora do secador. Afinal,
ninguém vê nos contos de fadas princesas com cabelos rebeldes.
Os sapatinhos de
cristal da pobre menina deixavam seus pés em carne viva. Todas as vezes que ia
aos bailes da cidade, voltava com os calcanhares doendo e com os saltos na mão.
Tudo era um verdadeiro show de equilíbrio e destreza e todos os movimentos,
mesmo os mais doloridos, eram feitos com um sorriso no rosto, pois príncipes
gostam de princesas felizes.
Mesmo com todos os
esforços, a menina ainda não conseguira encontrar seu tão almejado príncipe. A família
já começava a pressiona-la, pois, segundo a má língua dos parentes, ela estava
ficando velha e encalhada e sempre é mais difícil arrumar um marido depois dos
trinta, ainda mais se a mulher tiver pós-graduação. Uma vez, sua avó questionou
como uma garota tão inteligente e bonita poderia não ter um namorado para
acompanha-la. Sua tia, em todas as festas que a encontrava, perguntava quando
haveria um casório, pois ela estava louca para comer bem casados.
Cansada de esperar por
um resgate que nunca chegava, um belo dia, a menina se deu conta de que, na
verdade, não precisava esperar por nada. Pegou sua própria armadura, levantou
sua espada, subiu em seu próprio cavalo branco, mandou os parentes pras cucuias,
pois era educada demais para manda-los para outro lugar, e foi ganhar o mundo. Nunca
se sentiu tão livre e completa. Nada como quebrar seu caixão de vidro, matar
cada um dos malditos anões e jogar as maçãs podres no lixo para se sentir
realmente dona de si.
A menina, afinal, não
achou um príncipe encantado. No entanto, viveu incríveis aventuras, comeu finalmente
um bom pedaço de pizza, fez pós-graduação e passou a ser o que queria ser e não
o que esperavam que fosse. De quebra, achou um homem comum e barrigudinho com
quem divide as tarefas domésticas e bebe cerveja nos fins de semana. Ah, e foi
feliz para sempre.