sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Bom, por conta da minha monografia, que é sobre a Chapeuzinho Vermelho, ando pensando muito nos contos de fada e em quais papéis as mulheres exercem neles. Pulando a parte chata e teórica, estava eu escrevendo aleatóriedades e eis que surgiu este conto. Diretamente das minhas divagações para o grande público, eu vos apresento "A princesa desencantada."


 A princesa desencantada
Era uma vez uma menina que cresceu acreditando que adolesceria, acharia um príncipe encantado, se tornaria uma princesa de um reino tão tão distante e viveria feliz para sempre, com seus sete filhos, um carro esporte, e seus vestidos de lantejoulas.
Só que o príncipe não veio, mas vieram por seu caminho muitos sapos, lobos, dragões, bruxas e irmãs más, o que fazia com que a pobre menina ficasse cada vez mais desalentada. Todas as noites, ela se perguntava onde estaria o príncipe que seus filmes preferidos, seus romances mais doces e as revistas femininas que lera haviam prometido. Quando, enfim, ela seria salva?
O tempo foi passando, os outonos viraram inverno, as primaveras viraram verão, e a linda menina ainda permanecia com seus sonhos na cabeça e seus sapos na garganta. Ela já havia feito de tudo para conseguir seu tão sonhado príncipe. Não comia doces, nem frituras, nem gorduras. Refrigerante? Nem pensar. Princesas tem a barriga lisinha. Falando em lisinho, o cabelo da menina já estava mais que alisado. Seus pobres cachos foram escravizados e se renderam a força opressora do secador. Afinal, ninguém vê nos contos de fadas princesas com cabelos rebeldes.
Os sapatinhos de cristal da pobre menina deixavam seus pés em carne viva. Todas as vezes que ia aos bailes da cidade, voltava com os calcanhares doendo e com os saltos na mão. Tudo era um verdadeiro show de equilíbrio e destreza e todos os movimentos, mesmo os mais doloridos, eram feitos com um sorriso no rosto, pois príncipes gostam de princesas felizes.
Mesmo com todos os esforços, a menina ainda não conseguira encontrar seu tão almejado príncipe. A família já começava a pressiona-la, pois, segundo a má língua dos parentes, ela estava ficando velha e encalhada e sempre é mais difícil arrumar um marido depois dos trinta, ainda mais se a mulher tiver pós-graduação. Uma vez, sua avó questionou como uma garota tão inteligente e bonita poderia não ter um namorado para acompanha-la. Sua tia, em todas as festas que a encontrava, perguntava quando haveria um casório, pois ela estava louca para comer bem casados.
Cansada de esperar por um resgate que nunca chegava, um belo dia, a menina se deu conta de que, na verdade, não precisava esperar por nada. Pegou sua própria armadura, levantou sua espada, subiu em seu próprio cavalo branco, mandou os parentes pras cucuias, pois era educada demais para manda-los para outro lugar, e foi ganhar o mundo. Nunca se sentiu tão livre e completa. Nada como quebrar seu caixão de vidro, matar cada um dos malditos anões e jogar as maçãs podres no lixo para se sentir realmente dona de si.
A menina, afinal, não achou um príncipe encantado. No entanto, viveu incríveis aventuras, comeu finalmente um bom pedaço de pizza, fez pós-graduação e passou a ser o que queria ser e não o que esperavam que fosse. De quebra, achou um homem comum e barrigudinho com quem divide as tarefas domésticas e bebe cerveja nos fins de semana. Ah, e foi feliz para sempre.